Há
um Gosto Amargo nas Flores
Ariovaldo Cavarzan
“Escrever prosa e poesia é como deixar marcas de
passagem, através das trilhas da vida. Importa, vez ou outra, parar para
respirar fundo, dar um tempo e admirar o quanto foi deixado à retaguarda,
haurindo ali forças e esperanças para a continuidade da jornada.” A.C.
Em meus tempos de menino, na ânsia de desvendar o
mundo,deslumbrei-me ante o perfume e a formosura das flores que enfeitavam
vasos, canteiros e jardins de minha casa, tentando
identificar-lhes o perfume e o gosto, aprendendo a apreciá-las em sua
diversidade de cores, fragrâncias e beleza.
Os sabores eram quase iguais, diferenciados
apenas por um toque que ia do amargo puro ao agridoce, com maior ou menor
intensidade, embora seus cheiros as tornassem inconfundíveis.
Mas, o olfato, o paladar e a mente de
menino, acabaram guardando mais que as simples nuanças perceptíveis
aos sentidos.
Aprenderam que as variáveis amargas dos
sumos que se esparramavam pelo interior da boca,
mostravam-se a mais inesquecível de todas as descobertas.
Gravaram a verdadeira identidade de
cada espécie.
Eram rosas, margaridas, lírios, malmequeres,
dálias, girassóis, cravos, violetas, bocas de leão, copos de leite,
açucenas, primaveras e flores do campo.
Algumas floresciam em hastes de
espinhos, outras se esparramavam no chão, como se fossem tapetes.
A cada nova surpresa, minha mente de menino
guardava uma valiosa lição, cujos significados verdadeiros passo a
entender agora, em plena fase madura, transportando-os para minha vida
cotidiana.
Não devemos nos encantar apenas com as aparências
de flores e pessoas.
Importa sentir-lhes o cheiro; conhecer-lhes o
sabor; descobrir-lhes a identidade mais íntima; conviver com elas,
para entender que, embora algumas se apresentem presas a hastes de
espinhos,
também podem mostrar-se formosas e
perfumadas.
E há ainda aquelas outras que se espalham no
chão, como se fossem tapetes, sem perder a dignidade e a formosura.
Mas todas guardam dentro de si seus
verdadeiros cheiros e sabores, nem sempre doces, nem sempre perfumados,com
variáveis nuanças mais ou menos amargas, tão somente à espera de um novo despertar
da curiosidade de um menino, com muita vontade de desvendar mistérios e
peculiaridades escondidas.
O tempo se encarregará de revelar cada
conformação, cada haste em que se assenta uma pessoa, ou uma flor,
espinhadas ou não, ou a terra fofa e generosa que lhes prendem os
pés.
Exibirá, por fim, suas particularidades
interiores, suas cores,seus sabores, sua beleza, seu perfume, seus humores, sua
espiritualidade e seus valores.
Enfim, sua capacidade de encantar,
embevecer, aceitar, compreender, renunciar, perdoar, acolher,
pacificar, esperar, sonhar e amar...
Ariovaldo Cavarzan, Itapira – S.P/Brasil
1 comentário:
adorei parabéns, abraço agradecido
virgínia fulber NHamburgo RS BR
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