por Mercêdes Pordeus
No próximo dezoito de março será
mais um DIA NACIONAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA e para entendermos melhor
sobre a presença judaica no Brasil e mais especificamente em Pernambuco até o
governo holandês, por isso abordamos o tema e falamos também sobre a Primeira
sinagoga das Américas, localizada no Recife.
Em primeiro lugar, transcrevo o
texto do historiador Leonardo Dantas da Silva, nascido no Recife.
UMA COMUNIDADE JUDAICA NA AMÉRICA PORTUGUESA
Leonardo Dantas Silva
[(*)]
(publicação do texto, autorizado pelo autor)
Perseguidos pela Inquisição, os judeus, disfarçados em cristãos-novos,
tentavam estabelecer-se no Brasil onde, em algumas partes, detinham 14% da
população economicamente ativa. Quando da Dominação Holandesa (1630-1654), a
comunidade do Recife veio a ser conhecida internacionalmente, sendo o seu
passado objeto do interesse dos estudiosos dos nossos dias. A importância
dos cristãos-novos e judeus na formação do Brasil colonial é estudada, de forma
pioneira, pelo Prof. José Antônio Gonsalves de Mello, a partir da publicação de
Tempo dos Flamengos - Influenciada
ocupação holandesa na vida e na cultura do Norte do Brasil (1947) e de
forma mais pormenorizada em Gente da
Nação - Cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1642-1654, Recife: FUNDAJ -
Editora Massangana, 1989; 2ª ed. Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1996.
Da Espanha para o mundo
Quando em 1492 os Reis Católicos
de Espanha, Isabel e Fernando de Aragão, vieram a expulsar os judeus sefardins
do seu território, parte das famílias transferiu-se para Portugal. A paz durou
pouco, pois já em 1497, D. Manuel, Rei de Portugal, obrigou o batismo cristão
de todos os judeus, criando assim a figura do cristão-novo, determinando a
expulsão daqueles que não viessem a adotar a religião católica romana. Assim,
segregados em determinadas áreas urbanas e obrigados a adotar uma nova
religião, os judeus permaneceram em terras do Portugal continental e em terras
de além-mar, alguns praticando às escondidas rituais da Lei Mosaica, até 1536,
quando da implantação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. Temendo o
poder da Inquisição, responsável por milhares de vítimas quando de sua atuação
na Espanha, a gente da nação, como também eram chamados os judeus, iniciou a
sua dispersão em busca de outras terras. Em 1537, Carlos V autorizou a
instalação de alguns deles em Antuérpia; em 1550, Henrique V, de França,
permite o estabelecimento de homens de negócios e "outros portugueses
cristãos-novos" [sic] em cidades francesas, dando assim origem aos grupos
conversos de Bordéus, Baiona, Tolosa, Nantes, Ruão; que só viriam a ser
reconhecidos como membros da comunidade judaica no séc. XVIII. Na década de
1590, iniciou-se a migração da França para Hamburgo e Amsterdam, cidades onde
vieram a se fixar. Outros, porém, movidos pela aventura e pela possibilidade de
enriquecimento fácil, vieram tentar a sorte no Brasil, onde chegaram a integrar
uma considerável parte da população, estimada em 14% na capitania de
Pernambuco. (clique na revista para ler a continuação)