Páginas

domingo, 12 de fevereiro de 2012

eisFluências de Fevereiro de 2011




Jornais sem espaço para a cultura
por Carlos Lúcio Gontijo

       Os índices de leitura são baixos e vão continuar assim por muito tempo no Brasil, caso nossas escolas permaneçam assentadas sobre as mesmas estruturas pedagógicas educacionais. Nossos grandes jornais, que deveriam usar a sua influência para exigir projeto educacional capaz de democratizar o ensino de boa qualidade e didaticamente montado sob o objetivo de atender, por meio de linguagem adequada, à totalidade de sua clientela, em vez de apenas 20% dela – o que explica o gigantesco número de repetência e evasão escolar –, não lidam bem com o assunto e nem conseguem demonstrar na prática a sua propalada preocupação com o ensino, apesar de serem hoje drasticamente prejudicados pela falta de hábito e gosto pela leitura predominante na população.
       Metidos na visão estreita do corte de custos, os proprietários de mídia impressa resolveram extinguir o departamento de revisão, que na realidade funcionava como uma espécie de editoria final, livrando os jornais não apenas de muitos erros gramaticais e de ortografia, mas também de vários equívocos de informação. A esse procedimento podemos somar a arrogância dos meios de comunicação impressa (comportamento acompanhado pelos demais veículos) de se sentirem os donos da notícia, transformada por eles em simples questão de marketing, baseados unicamente no jogo comercial (e político) de seus interesses.
       A verdade insofismável é que esse procedimento desprovido de compromisso com a boa informação vinha, há tempos, provocando queda no estoque de leitores, mas não era muito sentido no faturamento dos jornais, pois os anunciantes ainda viam neles a influência do passado. Daí então surgiu a internet tirando-lhes o monopólio da notícia, e eles, atravessando desmesurada crise de identidade, se nos apresentam despreparados para ser o contraponto, uma vez que a divulgação inserida nos espaços virtuais sofre com a falta de credibilidade, cobrando do leitor o exercício de constante filtragem.
      No desespero, muitos jornais optaram por se transformar em tablóide, no qual é confundida a leveza jornalística com exposição de mulheres nuas, priorização sensacionalista da violência urbana em detrimento da análise e da opinião, dando origem a publicações que já chegam às ruas envelhecidas, ultrapassadas e sem qualquer atrativo.
       Em suma, uma vez nas bancas, os tablóides coloridos têm curto período de procura e venda, além de ser transformados em papel de embrulho no primeiro correr de olhos do leitor. Ou seja, não há neles matéria a ser revista (se a ideia era fazer um produto impresso absolutamente descartável, acertaram em cheio e não têm do que reclamar).
       Nosso falecido amigo jornalista Elias Maboub, que foi revisor por mais de 50 anos no mercado jornalístico de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, gostava de brincar conosco dizendo que “jornal sem revisão era a materialização do ato de fazer do erro a certeza do acerto...” Num ambiente assim, contrário ao prazer da leitura e ao indispensável momento de reflexão, tomados como fatores prejudiciais à moderna cultura de eventos e lazer, chega a ser ato de extrema ousadia a edição de livros no Brasil, onde são altos os custos gráficos, com a impressão se mantendo em patamares elevadíssimos, apesar de o governo ter retirado todos os impostos que incidiam sobre a produção literária, que pouco espaço tem nos jornais, onde a preocupação é tão-somente com as celebridades e os famosos, ainda que – exaustos, enfastiados e entediados –, nada tenham a nos dizer.    

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista

Sem comentários: